quinta-feira, 29 de março de 2007

Não faça nada!

Há alguns dias tive o imenso prazer de substituir Felipe para ensinar na sua aula de teologia sistemática num excelente seminário teológico daqui de Recife (AMESPE). Bíblia em mãos, apostila na outra (tal como os ingleses anglicanos que iam sempre com a Bíblia na mão, e o LOC na outra, rsrsrs); e ai, foi: Berkhof pra lá, Calvino pra cá, Kuyper, Bavinck, Baxter, e etc. Aquela seleção teológica de grandes “cristãos”. Imagine a “responsa” de ter que substituir ao meu amigo, pastor, e em minha opinião, um dos maiores teólogos dessas bandas das terras tupiniquins, apesar da sua pouca idade.

Estive dando as suas aulas, e ao mesmo tempo, estive observando os futuros pregadores, pastores, ou ministradores que se engajaram nesse curso. As aulas foram boas e me senti muito à vontade com os alunos. Vi que dali, bons frutos brotarão para a glória de Deus. As aulas foram “gostosas”, inclusive quando se levantou um caloroso debate na sala a respeito da santificação. Afinal, a santificação é por obras, ou pela fé? A salvação é obra de Deus, e a santificação é obra humana? Ou ambas são obras de Deus no homem?

Verdadeiramente, acredito que, para todos os seminários, o Evangelho deveria ser incluído como matéria isolada, do mesmo modo que existe a teologia sistemática, a teologia bíblica, a teologia do Novo Testamento, Grego, etc. Qual a razão dessa minha observação? A imensa dificuldade que todos os seres humanos possuem de ver o evangelho na simplicidade que ele é, e na imensa profundidade que o evangelho traz aos crentes e descrentes. Como gostamos de complicá-lo... impondo regras, leis, transmutando o evangelho em filhote da religiosidade judaica, e das religiosidades do mundo. É necessário entender que o cristianismo é diferente de todas as outras religiões do planeta.

O mundo, a sociedade secular, o homem de uma forma muito generalizada estão diretamente envolvidos na imensa teia de aranha da ‘cultura da barganha’ e do ‘troca-troca’. A sociedade prioriza aquele que consegue agir com beneficência. O mundo mede as pessoas pela conquista ou logros obtidos, e, o homem pondera o valor de alguém pelo que essa pessoa possa ter, ou oferecer. A nossa sociedade é assim. Legalista. Implacável. Sem graça. Dá a quem merece, salvo raríssimas exceções. Porém com Deus, com “o Deus de toda a graça” as coisas não funcionam dentro desse patamar. “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os meus caminhos os vossos caminhos, diz o Senhor...” (Is 55.8). Pois, todas as demais religiões do planeta, todos os “ismos” religiosos, apelam às obras para que o homem possa ser merecedor, auto-salvador, e alcance assim, por méritos próprios, os lauréis da salvação e uma melhor espiritualidade por intermédio da santificação – como se tratasse de uma conquista olímpica pessoal. Já o cristianismo diz exatamente o contrário. Não fazemos nada, não merecemos nada, não há leis que nos imponham condição à salvação, não há regras que possamos seguir para melhorar o nosso conceito (como se tivéssemos algum...) diante de Deus. Toda a nossa salvação e santificação são pela fé, pois descansa na obra e nos méritos exclusivos de Cristo.

Na verdade, nos santificamos pela fé através da obra do Espírito Santo em nós. Se a salvação é pela fé, e a santificação faz parte do processo inerente de salvação no crente, ela também é pela fé.

Finalizo com a imensa declaração de John Newton (aquele que compôs ‘Amazing Grace’): A humanidade nasceu num pacto de obras – "viverás em quanto não tocares na árvore". Porém, Quando se fala de confiança em Deus, mais que nada a Bíblia quer nos mostrar que agora devemos confiar, não nas nossas obras para obter a salvação, mas nas obras de Cristo para esse fim. Ou seja, não faça nada. Confie apenas no que já foi feito. Confie em Deus.

Pr. Waldemir Lopes

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