sábado, 28 de abril de 2007

Foto e Grafia

Sempre expressei meu apreço e medo pelas fotografias. Elas nunca me deixam lágrimas no depósito dos meus olhos. Nunca as tive em abundância, no entanto, as que guardo até hoje revelam um tempo em que eu não era eu. Era menino. Era criança sem noção da vida. Era filme sem pose. Quando se é criança não se sabe ser o que as fotografias só revelam mais tarde.

As fotos para mim têm uma qualificação além de estática, além de quatros cores combinadas. São a eternização de um tempo. De um presente. De uma imperceptível passagem do futuro para o presente. É um ausente que só a paralisia vê. Se eu não me ver parado em resultado de um flash nunca me vejo realmente. Jamais me contemplo em um momento. Eu paro.

Sempre que um homem se vê não se vê realmente como homem. Se vê como coisa. Como cores. Como hiato entre o real e o irreal. A razão de termos um número crescente de imagens a disposição é a necessidade de vê como algo coisa diferente daquilo que o espelho já mostra. Tem-se a necessidade de se guardar, mesmo que aquilo guardado não seja você. É nada mais do que você parado e como não conseguimos parar, fotografamos eternizando assim o tempo e momento que jamais existirá. O tempo não pára. O presente não se percebe. A fotografia nos parou.

Choro diante das fotos e imagens de minha infância porque parar para me ver parado é ruim. Parar é olhar pra traz. É não seguir. É interromper o tempo.

A Bíblia é máquina fotográfica. Ela traz imagens de um Salvador que nunca pára. Nunca se estatiza. Jamais olha sequer o calcanhar. Nestas imagens vejo um Cristo me amando sem parar. Enxergo Jesus me curando das minhas paralisias. Choro com estas imagens. Choro com o nunca parar de agir do meu Senhor que nunca se fotografou senão por palavras, testemunhos e milagres.

Pr. Daniel Luiz

Venha e Descanse!

Estou outra vez aqui nos EUA com um grupo de plantadores de igrejas internacionais. Desta vez tenho a honra de estar aqui com meu pai - meu super-heroi em se tratando de plantação de igrejas e os pastores Pedro e Armando, companheiros de ministério em Recife.

O tema que estaremos abordando durante estes próximos dias será: "Venha e Descanse", que expressa uma preocupação pastoral com pastores. Estes precisam ser pastoreados porque pastores são também ovelhas.

Engraçado que nos últimos dias tenho sentido em mim uma necessidade de cuidado; não que o Senhor não cuide de mim, obviamente, mas que existencialmente preciso de seu amparo, de seu carinho, me afirmando, me amando… preciso estar mais perto dEle. É bem comum que como "pastor", guie as ovelhas e se distancie do Supremo Pastor ao mesmo tempo. Isso geralmente acontece quando o foco está no "guiar" e não no "guia". Quando o foco está no "guiar" as ovelhas podem ate descansar, mas o pastor não. Elas podem se saciar, enquanto o pastor se encontra faminto. Isso porque o trabalho do pastor passa a ser individual, pessoal, braçal e, consequentemente, exaustivo. Deixa de ser um trabalho feito por fé e passa a ser um trabalho feito por "obras".

Quando o foco esta no "guia" a coisa se torna diferente, pois aquele que guia as ovelhas passa a ser guiado como ovelha e ao levar as ovelhas aos pastos e às relvas de descanco, o Pastor o alimenta e o faz descansar. Quero comer e quero descansar…

Por Felipe Assis

terça-feira, 17 de abril de 2007

Quando cruzamos a linha do desespero...

Há pouco tempo atrás escrevi sobre o caso do menino João Hélio que deixou boquiaberta a sociedade brasileira. Hoje porem, é a vez da sociedade americana que experimenta nada mais, nada menos do que a maior chacina da história do país. O crime não aconteceu numa periferia, numa favela, numa boca de fumo, mas no campus de uma das 100 melhores universidades do país. O assassinato de 32 alunos não foi cometido por um vagabundo qualquer, ociosos e voltado para uma vida de criminalidade, mas, por um dos alunos que morava no próprio internato da Virginia Tech. Uma faculdade internacionalmente conhecida como esta não apenas aceita alunos que tem condições de pagar cerca de 30.000 dólares por ano. Para ingressar lá, se necessita de massa cefálica e uma participação exemplar ao longo de todo histórico escolar. O que prova que o problema da violência não é o problema da pobreza, da falta de educação, do desemprego. O problema da violência é um problema moral. Logo, um problema do pecado inerente ao coração humano. O homem sem Deus é um homem que “cruzou a linha do desespero” como dizia Francis Schaeffer. Ainda não se sabe ao certo, mas, especula-se que o assassino começou a puxar o gatilho por ciúmes, por achar que sua namorada o traía com outro aluno. A dor do seu coração existencial passou então a ser a dor no músculo miocárdio daqueles que o cercavam também. Dentro desta ótica, a violência se torna o último recurso por não crer que exista solução para a crise imediata. Que exista um ser superior a quem recorrer que entenda a dor interior, que exista um futuro esperançoso, que exista uma dimensão além da material, que não estejamos jogados ao acaso como dizia Heidegger. A violência é o recurso que recorremos por não aceitar que exista um justo juiz. Daí, resolvemos voluntariamente sentar em sua tribuna para batermos o martelo sobre a vida daqueles que julgamos merecer uma sentença. Neste aspecto somos iguais a este “serial killer”, claro que obviamente sem as mesmas proporções e conseqüências. Não obstante, quando sentimos violados, corremos atrás de nossos inimigos para que paguem com os olhos e com os dentes a ofensa cometida contra nós. E mais... no processo, os inocentes espectadores que se cuidem para não se tornarem vitimas por tabela.

No final quando a raiva é satisfeita na carnificina agora exposta em forma de caos, a conclusão é unânime. Não valeu a pena, tanto para quem estava de fora, como para quem violou como para quem foi violado. Isso revela que somos todos desqualificados para julgar e trazer justiça. Se acreditássemos num reto juiz que um dia colocará todos os pontos nos “i”s, jamais tentaríamos sentar em sua tribuna após cruzarmos a linha do desespero.

por Felipe Assis

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Feliz Ressurreição!

Os pregos enferrujados ainda celebram até hoje as aberturas deixadas em suas mãos. A coroa se desfez pelo mesmo tempo que apenas cicatrizou as feridas expostas causadas pelos seus alguns centímetros de penetração em sua cabeça. Os chicotes só perderam alguns pedaços de ossos que teimaram em não sair de suas costas ensopada. A ponta da lança logo secou, mas não antes de testificar à alma de quem a usou que o corpo que ali estava era mais que epiderme e cálcio. O manto descolado jamais saberá o que é ser rasgado de céu abaixo pelo sentido concretizado da morte de quem ele tocou. A cruz nunca mais foi a mesma – apenas vazia de um corpo mas para o quase sempre possuída de um sentido e significado. Do túmulo o odor se foi rapidamente mostrando com sua ausência que era hora da presença angelical. A enorme pedra que servia de portais eternos demudou-se em grão ante a descida do mensageiro. A eterna morte foi apenas efêmera passagem, mas nunca prisão. Nunca acorrentou quem nunca deixou de ser livre. Nunca aprisionou aquele que pode libertar. A lágrima, antes de cair no chão, voltou aos olhos pelos poros das mãos regando os pés de quem, a partir daquela cena, eternizou a proclamação da vitória da vida sobre a derrotada morte. A morte jamais será a mesma. Aliás, jamais será.

“Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (João 11.25).

Pr. Daniel Luiz

terça-feira, 3 de abril de 2007

Entrevista com o Dr. Tim Keller

Durante a conferência para plantadores de igrejas que estão em parceria com a Redeemer tive o privilégio de ouvir do próprio Tim Keller, que encontrou nosso blog e que estava navegando nele. Ele me disse que tentou ler mas, que seu português estava enferrujado. Ri e sugeri que partcipasse de uma breve entrevista no nosso espaço. Ele concordou e me pediu que lhe enviasse um email que em menos de uma semana responderia as perguntas. Pois bem, enquanto esperava meu vôo de volta para Recife no aeroporto de Guarulhos resolvi abrir meu laptop e mandar as perguntas. Fechei, fui no McDonalds pegar um milk shake e quando voltei já havia respondido. Tenho muito respeito pelo Tim e confesso que apesar de não ter tido contato acadêmico com ele, considero-o meu grande mestre de pregação. É portanto uma grande honra ter essa pequena entrevista no nosso blog.


Tim, eu acho que o que você ensina sobre o Evangelho está bem de acordo com os ensinamentos do curso “Sonship” (traduzido aqui como “Aba Pai”). Quando estudava no RTS em ´99 um debate surgiu nas aulas de Teologia Sistemática pois alguns acusavam o Sonship de graça barata e até “uma nova forma de antinomismo”. Você concorda com isso? E... o que você acha desta controvérsia?


Eu frequentei a New Life Presbyterian Church em Glenside na Pennsylvania USA durante os anos de 1984 – 1989 e estive muito envolvido. Eu acredito que muito do modo que falo a respeito do Evangelho veio de ouvir o Dr. Jack Miller (o pastor da igreja) pregar. Os cursos do Sonship foram desenvolvidos por pessoas que eram membros da New Life e foram inspirados pela pregação de Jack. Não obstante, eu nunca fiz o curso Sonship, nem li o material publicado, nem nunca fui a uma de suas conferências. A Redeemer e o Sonship possuem um ancestral comum na pessoa do Jack Miller, portanto tenho certeza que existe grande semelhança sim. Sempre me dizem que soou muito com o Sonship mas, além disso não posso dizer mais nada. Eu não sei quanto o ensino na Redeemer é parecido ou como se diferencia do material do Sonship. E sim… não estou a par desta controvérsia.

Corrija-me se estiver errado. Lutero entendia que a Graça era oposta a Lei e Calvino entendia a Lei como graça. Sendo um calvinista, como é que você enxerga este assunto?



Eu tenho uma visão mais positiva da Lei do que Lutero. Quando você se apaixona você quer conhecer a vontade do ser amado, para que você possa se satisfazer e desfrutar dele ou dela. Você tem um desejo profundo de satisfazer a vontade de quem você ama. A lei moral de Deus é sua vontade, e se eu sou salvo pela graça eu quero obedecer sua vontade por amor e com alegria. E por amor, eu prometo obedecer sua vontade mesmo quando não sinto muita alegria e amor. Então como um cristão reformado, eu creio que devo obedecer a Lei de Deus.

Como é que a Igreja deve disciplinar a luz do Evangelho? Por exemplo, muitas igrejas suspendem o membro faltoso da eucaristía. Eu sei que você gosta muito de dar exemplos práticos então, se você puder fazer assim, ajudará bastante.


Eu acho que se um cristão está preso numa patente de pecado, (por exemplo: se um jovem cristão está transando com sua namorada, ou se um outro cristão não consegue perdoar um irmão em Cristo que o ofendeu) então se ele ou ela está vindo a Mesa do Senhor, eles devem voluntariamente privar-se de tomar parte dos elementos da Santa Ceia. Mesmo que se arrependam na hora, seria uma boa disciplina deixarem de participar da ceia até que tenham certeza de que se arrependeram e que fizeram as mudanças necessárias. Lembre-se que disciplina eclesiástica é apenas fazer o que a pessoa deveria estar fazendo de qualquer forma. Suspender pessoas da Santa Ceia indefinitivamente (até que se arrependam) ou até por um periodo determinado depois que se arrependam, pode ser algo muito bom para o crescimento espiritual.


Ouvi que você estava escrevendo seu segundo livro. Fale um pouco sobre isso.




Estou escrevendo um livro para não-crentes. Nele, tento tratar das objeções que pessoas seculares num lugar como New York City têm em relação a fé cristã. É desenhado para ajudar pessoas a possuirem uma visão mais positiva do cristianismo, talvez até ajudar no processo de se ter fé em Jesus.

por Felipe Assis