Um pensamento me incomodou durante a minha devocional ontem que suscitou em mim o desejo de compartilhar com vocês. Estava lendo a passagem em Genesis 15 onde Deus corta uma aliança com Abraão prometendo-lhe uma terra e um povo tão numeroso quanto as estrelas do céu. Até aí tudo bem... o que me chamou a atenção foi que antes de “cortar” a tal aliança as seguintes palavras aparecem no verso 12:
“Ora, ao pôr do sol, caiu um profundo sono sobre Abrão; e eis que lhe sobrevieram grande pavor e densas trevas”.
Mais especificamente a parte que se refere ao grande pavor e as densas trevas. Pensei: Porque é que Deus lança medo e trevas sobre Abraão antes de prometer a ele algo tão importante e glorioso - Jesus (Gal 4:16); aquele que por meio dele Deus faz de todos os povos uma só nação?
Veio a minha mente então outras tantas passagens que parecem ter a mesma temática. Por exemplo: Me lembrei do fato que em Ex 20:21 Moises entra nas “trevas espessas” onde Deus estava para receber dele instruções específicas de culto após ter recebido os 10 mandamentos.
Lembrei-me também das palavras do salmista no Salmo 97 que dizem: “Nuvens e escuridão estão ao redor dele; justiça e eqüidade são a base do seu trono”. E as do Salmo 18 que dizem: “Fez das trevas o seu retiro secreto”.
Lembrei-me ainda de Genesis 0. Isso mesmo, pois sabemos que antes da obra da criação em Genesis 1 tudo era escuro e sem forma.
Notei então uma patente que se repete na história da redenção. As grandes obras de Deus são antecedidas por pavorosas trevas. Recordemos a obra da cruz no final dos evangelhos. É registrado pelos evangelistas que quando Cristo se encontrava nos seus últimos momentos, na cruz, segurando seu ultimo fôlego de vida para lamentar o seu abandono pelo Pai e bradar Tetelestai, veio sobre a terra, ao meio dia, densas trevas. Não foi um eclipse solar pois durou cerca de 3 horas nem foi expressão alegórica de quem escreveu porque minutos foram contados.
Recordo-me de uma das obras devocionais que mais me comoveu ao le-la. Em “A Noite Escura da Alma” o monge espanhol conhecido como João da Cruz nos ensina que Deus as vezes, propositalmente, se retira do contato com seus filhos, causando-lhes uma escuridão profunda na alma. Ele faz isso não porque é ausente, mas justamente porque é presente e quer aprimorar ainda mais nossa comunhão com Ele.
As obras de Deus precisam ser contrastadas de forma violenta com o que mais nos apavora, a escuridão, onde todas as coisas se desintegram. Essa é nossa primeira lição. Que precisamos visualizar o esplendor dos seus atos de graças e para isso nada melhor do que trevas.
Além disso, trevas transmitem obscurantismo. É o que Lutero chamava do Deus abscontitus que se torna o Deus revelatus. Em outras palavras: Ele se revela porque é misterioso e o seu ser, seus planos e seus decretos pertencem única e exclusivamente a sí mesmo. Na linguagem de Paulo, na sua mente ninguém pode entrar. Essa é nossa segunda lição que apesar de não entendermos o que ele faz nas circunstancias que vivemos, sabemos que ele é misterioso, não totalmente claro mas com certeza seguro.
E último, notamos que ele habita nas trevas apesar de ser luz. Muito ironico isso!!! E essa é nossa última lição. Que mesmo que nós passemos por trevas não significa que Deus não esteja lá. Só por que o quarto está escuro não significa que ele esteja vazio. O cosmos era escuro, mas ele sempre esteve lá, ao dar a sua lei para iluminar os nossos passos ele estava em trevas e ao morrer para nos transportar para o reino da luz, densas trevas vieram existencialmente e fisicamente sobre ele.
É bom sabermos dessas coisas pois, biblicamente falando a escuridão na vida e na alma pode ser algo aterrorizante mas, também é sinal de que o Senhor das Trevas ainda tem algo para fazer.
por Felipe Assis