quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Jesus, O Caçador de Pipas

Amir era um garoto problemático que cresceu no Afeganistão pré-guerra civil. Seu melhor amigo é Hassan, um garoto de lábio leporino, filho do empregado da família. Hassan fazia tudo que Amir verdadeiramente lhe pedia. Amir e Hassan eram insultados constantemente por Assef, um brigão de uma respeitada família afegã que se uniu aos talibãs após o domínio russo. Em um encontro turbulento com Assef, Hassan protege Amir de uma agressão, ameaçando-o com um estilingue (badoque). Assef e seus capangas recuaram, prometendo vingança a Hassan.

O amigo de Amir é um dos destaques do anual campeonato de pipas, que marca o início do inverno em Cabul. Amir é um mestre na competição e Hassan é um talentoso caçador de pipas (papagaios), alguém que apanha as pipas caídas para consertá-las e exibi-las perfeitas. Aos 12 anos, Amir finalmente ganha a competição. Infelizmente, quando Hassan corre para apanhar a última pipa, ele encontra Assef. Amir vai à procura do seu amigo e acaba testemunhando Hassan sendo brutalmente violentado por Assef. Falta, a Amir, coragem para intervir e ele prefere manter seu conhecimento sobre o fato em segredo. Para que estragar a sua festa de campeonato? – pensa Amir. Não podendo mais tolerar a presença de Hassan em sua casa, pois já o via como um maldito, Amir prepara uma armadilha para seu amigo e irmão, escondendo dinheiro e um relógio de pulso sob o colchão de Hassan para incriminá-lo. Apesar de ser inocente, Hassan prefere assumir a culpa a complicar seu irmão. Hassan é expulso de casa, e ainda que Amir nunca mais tivesse visto Hassan novamente, que acaba morrendo nas mãos dos Talibãs, ele se vê constantemente atormentado por tê-lo traído.
O livro "O CAÇADOR DE PIPAS", um best-seller mundial, não termina ai, porém, muito me chamou a atenção como de uma forma tão inconsciente os escritores acabam deflagrando o Evangelho através dos seus personagens.

A figura de Hassan, se não fora um personagem fictício, poderia ser catalogada como um tipo de Cristo. Pois, do mesmo jeito que Hassan, Cristo foi traído pelos seus, exposto a ignominias vergonhosas, como o ser crucificado nu, e assume a culpa do erro de outros; sofrendo ele mesmo a conseqüência da maldade articulada e executada com maestria pelo seu amigo, Judas. Não é o Nosso Senhor aquele que verdadeiramente vai ao encontro das pipas quebradas - nós, seres humanos, que apanha para consertá-las e exibi-las perfeitas?

E por último, ainda fico pensando em como há pessoas que se comovem e se sensibilizam com uma obra de ficção, a ponto do livro se tornar um best-seller, e ainda assim, muitas dessas mesmas pessoas não dão credito a verdadeira obra realizada no Calvário.

Bom, são apenas pensamentos...

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Quase

Estamos quase lá. Quase é 2008. Quase... sempre quase. O quase é a falta da completude. É o que falta. O que sempre faltará. Sempre estaremos quase.

No ano que ainda quase finda recebi grandes presentes. Uns perfeitos e outros quase. O aniversário de casamento quase passa despercebido - queria também que fosse quase a dura que levei merecendo. Deu tempo de ser perfeito. O primeiro ano de pastorado bem mais longe do quase perfeito. Sou quase.

Pensei agora sobre a obra de Cristo por mim que começou no tempo e no espaço a quase sete anos - não sei do grau de variação desse quase. Eu quase consegui me salvar. Quase cheguei a Deus por outros caminhos. Quase me tornei Seu amigo. Quase me considerou justo. Faltou um til da Lei. Um cabelo de sapo que quase existe. Faltou isso. Quase...

Posso enxergar meus feitos do corrente ano como quase nada do que devo em gratidão a Deus ou considerá-los quase conquista de merecimento do favor de Deus. Prefiro o sempre “quase” da correspondência do amor divino que me leva a querer demosntrar mais o meu amor sempre quase perfeito por Ele do que fazer deste “quase” uma frustração por não alcançar o favor imerecido de Deus.

Quase me perco nesse texto querendo apenas dizer que se não fosse a mão poderosa de Deus, a face dEle oculta em Cristo, Seu braço forte, suas palavras cortantes... se não fosse isso, teria a certeza que não chegaria no quase fim deste ano.

Outros receberei no quase presente ano, no entanto aguardo apenas mais de Deus e menos de mim. Menos do meu quase e mais do Seu “está consumado”. Não espere o quase corrente ano mais do que Cristo que está quase voltando. E Ele está quase!

Dedico este último texto do quase ano passado a quase perfeita igreja do Curado IV.

Pr. Daniel Luiz, quase pastor

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Natal

Entrando no mês de dezembro e vislumbrando o passado, presente e futuro, me sinto como o capitão Nascimento do filme Tropa de Elite. Nascimento e morte. Um menino para nascer e bandidos para morrer. Nascimento fazia nascer a dor dos que causavam dor e a dor de quem trazia em seu ventre a razão da busca pelo fim do renascimento constante da morte.

Nossa sociedade vive com a morte muito de perto. Vivemos admitindo-a mais do que o nascimento. O IBOPE reflete nossa preferência pelas desgraças alheias. Maternidades são temporais, o cemitério não. Enquanto a maternidade arranca lágrimas de dois, a morte prevalece como a campeã em se tratando de fazer jorrar torrentes de aguas dos nossos olhos. Me sinto devedor da morte. Enquanto tudo isso, nasce um menino. Não o de Nascimento, mas que também vem ao mundo em meio a guerra e muita morte.

Natal é nascimento, mas é morte. Em discurso uma palavra deve morrer para dar lugar a outra. A semente de mustarda deve morrer para fazer nascer uma árvore. O nascimento de Cristo nos chama a morrer para nós mesmos, nosso orgulho, nossa prepotência, nossa pseudo-independência e etc. Natal é nascimento para alguém morrer. No caso de Cristo, Ele mesmo morreu para que nós experimentássemos vida.

Você vive como o Capitão Nascimento. Escolha ver o nascimento ou achar que a morte do outro trará paz. O Natal diz morra e renasça em Cristo - o menino-homem que nasceu pra morrer e renascer...

Pr. Daniel Luiz
dlrandrade@gmail.com

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Construindo uma Cidade na Cidade


Li esta semana um artigo no Jornal MIAMI HERALD sobre um grande bilionário americano que acaba de lançar um plano audacioso para o centro da cidade de Miami. Numa área enorme que acabou de comprar por quase 80 milhões de dólares pretende construir um dos maiores complexos do mundo. No projeto constam residências, escritórios, lojas, plazas e áreas de lazer. Creio que todos que leram o artigo ficaram impressionados com a ambição e o tamanho deste projeto. Todavia o que mais me chamou a atenção foram as palavras do bilionário Falcone: “a visão do empreendimento é de se ter uma cidade dentro da cidade de Miami”.
Achei no mínimo engraçado porque estamos prestes a terminar aqui na Comunidade Memorial uma série de pregações sobre o sermão da montanha de Jesus justamente intitulada por nós, Uma Cidade na Cidade.
Neste sermão Jesus apresenta a planta estrutural da Cidade de Deus construída em meio a Cidade dos Homens. O empreendimento de Jesus é muito mais audacioso do que o de Falcone, pois visa construir esta cidade com materiais imperecíveis. O projeto da cidade espiritual alterna de Jesus que já está em fase de execução é construído em cima de vidas transformadas pelo poder do evangelho. De acordo com Pedro “somos pedras deste edifício”, mas, ao mesmo tempo somos habitantes deste edifício. Ou seja, somos a parte física e a parte que usufrui do físico. Isso porque o reino é espiritual mas também gradativamente físico. Como não é chegada a sua plenitude, vemos sua realidade as vezes mais, as menos visível. Um dia porém, será plenamente espiritual e físico. A Bíblia nos seus dois últimos capítulos nos dá um retrato fiel desta realidade. Não obstante, a pergunta aplicável agora é: Como é que participamos deste projeto de Deus que se encontra em andamento? Participo vivendo, não fazendo. Afinal, de contas quem está construindo é Deus. É ele que arranja as Pedras e nos faz casa para nós mesmos. A lógica é, se sou então vivo e não o contrario. Em outras palavras, vivo porque sou, não sou porque vivo. Sacou? Então... é mais ou menos isso aí.

por Felipe Assis

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O Evangelho segundo Hairspray

“Mãe não tenha medo de sair de casa, o tempo das pessoas diferentes chegou” foi o que disse Tracy Turnblad, a gordinha bem humorada; personagem principal de Hairspray.

O musical da Broadway que se adapta pela segunda vez às películas de cinema conta a história de um subúrbio americano em plena década de 60 que é entretido por um programa de TV local, onde jovens dançarinos se requebram ao som característico da época. O programa apresenta jovens de perfil calcasiano, atlético e de classe média alta. Ao saber da abertura de uma vaga, Tracy se empolga e se apresenta para fazer o teste nos estúdios da emissóra. Sem ao menos ter uma chance de mostrar o seu talento, Tracy é rejeitada por ter uma cintura avantajada e uma estatura indesejada. Ela representa o marginalizado fruto do exclusivismo presente nos seus dias. Além de Tracy, existem os talentosos jovens Negros que apesar de possuirem “skills”, só podem se apresentar uma vez por ano na edição especial do programa entitulado “Negro Day”. Por ter uma aparencia que foge do padrão, Tracy se une aos estudantes negros na sala de detenção para aperfeiçoar sua “ginga”.

Certo dia, Tracy é notada pela frecha da porta, por um dos jovens participantes do elenco do programa que acaba levando-a para se apresentar no ar. O resultado é que ela se torna a coqueluche do momento. Afinal de contas ela representa a todos que não se enquadram. Tracy representa os “imperfeitos”. Ela representa o negro, o pobre e o feio. Ela representa o que o evangelho representa. O evangelho representa a loucura, a fraqueza, a pobreza, e a feiura. Ou seja, adjetivos que fogem dos padrões da religiosidade humana. A religiosidade aceita aqueles que se enquadram no seu rótulo. O evangelho aceita os “diferentes”, aqueles que são postos à margem da performance do sucesso. Na verdade, o Evangelho só aceita e inclui os que são excluidos. Inclusão aos excluidos no musical soa profano, assim como soa nas páginas dos evangelhos e nos guetos da religiosidade evangélica dos nossos dias.
Vem a minha mente a experiencia que Pedro teve quando resistia ao pensamento de que Deus passava a incluir a seu povo não apenas judeus mas, gentios imundos. A palavra de Deus a Pedro em síntese, ecoa em unísono com as palavras de Tracy. “Não tenha medo, o tempo para as pessoas diferentes chegou!”

por Felipe Assis

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O Religiosismo que mutila o Evangelho – parte II

A Bíblia diz em Levítico 21:17-20 que aqueles que tivessem os corpos mutilados, danificados, ou fossem "diferentes", não se qualificavam para o oferecimento do pão. Do mesmo modo, mulheres menstruadas, homens que recentemente tivessem tido emissão noturna, pessoas com enfermidade de pele ou feridas supurentas, alguém que tivesse tocado em cadáver, ou tivesse comido animais como lagosta, ostras, porco, coelho, etc. – todos esses eram declarados cerimonialmente impuros. A pratica de algo assim era vista como uma transgressão à lei ritualística de Deus. Os religiosos não entenderam a graça intrínsica nas linhas da Lei, e acharam que qualquer um pecaria dependendo do que comesse, tocasse, ou da sua constituição genética.

Parece inconcebível, porém, esse era o ambiente que definia o judaísmo da época. A união da lei mosaica e das regras farisaicas. Por esta razão, todos os dias, os judeus religiosos nas suas orações matinais davam graças a Deus por "não ter nascido mulher... por não ser gentio... por não ser escravo..." etc.

Na concepção errada do pecado, transgredir estas leis era ofender a Deus. Nosso Senhor Jesus veio e aplicou a lei, tal e como era. A lei é um reduto da graça. Ele mostrou como deve ser o verdadeiro religioso. Quando Jesus veio, ele aprimorou a mira das pessoas que estava totalmente fora de foco. Acabou com essa história de "puros" e "impuros". Falou abertamente: "vocês não entenderam nada!". Na verdade, o texto em Levítico (exposto acima) mostrava que aquelas determinadas pessoas, tidas como "esquisitas" e discriminadas pelos religiosos, não ofereceriam o pão, porém seriam os beneficiários mais diretos do culto. Seriam privilegiados por isso. Não era para desqualificá-los, e sim, para honrá-los. Logo, os religiosos pensaram em desqualificar e não em amparar. O religiosismo sempre vai se preocupar com as trivialidades, negligenciando as coisas mais importantes.

O religiosismo é legalista, olha para si, ao invés de olhar para a comunidade. Olha para os seus sentimentos ao invés de olhar para Cristo. Não é seguidor de Cristo, é satisfazedor de si próprio.

Pr. Waldemir Lopes

O Religiosismo que mutila o Evangelho - Parte I

A lei do Senhor é perfeita e santa. Porém, o legalismo religioso a manipulou a fim de torcê-la segundo o seu querer. Daí surgiram as discriminações. A lei destila graça por onde quer que olhe. Ela preparava a chegada da graça explícita em Cristo. Segundo Paulo, a lei nos serviu de tutor, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados. Mas, depois que veio a fé, já não estamos debaixo de tutores (Efésios 3:23-35). Paulo, sim, tinha entendido o que nós devemos entender. A lei serviu para guardar, e nos orientar na comunhão com Deus até que viesse a fé e a graça. Quando por fim, Jesus doa a sua justiça perfeita a aqueles que crêem com a fé que é posta no coração pelo próprio Senhor.

Quando veio Jesus e começou a "quebrar a lei" – na verdade, deu o seu verdadeiro sentido - tocando em leprosos, em mortos, comendo com pecadores, recebendo adoração de mulheres prostitutas, perdoando pecado, dispensado graça, trabalhando no sábado, e conversando com uma mulher samaritana - para consternação dos discípulos, que sabiam que "os judeus não se relacionavam com os samaritanos". Inclusive, essa mulher, rejeitada pelos judeus por causa da sua raça, rejeitada pelos vizinhos por causa dos seus muitos casamentos, veio a ser a primeira missionária designada por Jesus e a primeira pessoa a quem ele francamente revelou a sua identidade como Messias. A aproximação de Jesus com as pessoas impuras consternava os seus compatriotas... Tenho pensado como ainda temos relutância em nos aproximar de um não-crente, só porque não pensa como nós, ou não age como nós. Ora, isso é "religiosismo" (Filosofia religiosa carnal e diabólica). Uma falácia da verdadeira religiosidade.

Na verdade, o Evangelho nos diz que todos nós somos esquisitos, mas Deus nos ama assim mesmo – quem quiser vir participar do Reino que venha. Ou seja, como dizemos aqui na igreja: "nós somos pior do que imaginamos, porém a graça de Deus é muito maior do que possamos imaginar".

Pr. Waldemir Lopes