terça-feira, 3 de abril de 2007

Entrevista com o Dr. Tim Keller

Durante a conferência para plantadores de igrejas que estão em parceria com a Redeemer tive o privilégio de ouvir do próprio Tim Keller, que encontrou nosso blog e que estava navegando nele. Ele me disse que tentou ler mas, que seu português estava enferrujado. Ri e sugeri que partcipasse de uma breve entrevista no nosso espaço. Ele concordou e me pediu que lhe enviasse um email que em menos de uma semana responderia as perguntas. Pois bem, enquanto esperava meu vôo de volta para Recife no aeroporto de Guarulhos resolvi abrir meu laptop e mandar as perguntas. Fechei, fui no McDonalds pegar um milk shake e quando voltei já havia respondido. Tenho muito respeito pelo Tim e confesso que apesar de não ter tido contato acadêmico com ele, considero-o meu grande mestre de pregação. É portanto uma grande honra ter essa pequena entrevista no nosso blog.


Tim, eu acho que o que você ensina sobre o Evangelho está bem de acordo com os ensinamentos do curso “Sonship” (traduzido aqui como “Aba Pai”). Quando estudava no RTS em ´99 um debate surgiu nas aulas de Teologia Sistemática pois alguns acusavam o Sonship de graça barata e até “uma nova forma de antinomismo”. Você concorda com isso? E... o que você acha desta controvérsia?


Eu frequentei a New Life Presbyterian Church em Glenside na Pennsylvania USA durante os anos de 1984 – 1989 e estive muito envolvido. Eu acredito que muito do modo que falo a respeito do Evangelho veio de ouvir o Dr. Jack Miller (o pastor da igreja) pregar. Os cursos do Sonship foram desenvolvidos por pessoas que eram membros da New Life e foram inspirados pela pregação de Jack. Não obstante, eu nunca fiz o curso Sonship, nem li o material publicado, nem nunca fui a uma de suas conferências. A Redeemer e o Sonship possuem um ancestral comum na pessoa do Jack Miller, portanto tenho certeza que existe grande semelhança sim. Sempre me dizem que soou muito com o Sonship mas, além disso não posso dizer mais nada. Eu não sei quanto o ensino na Redeemer é parecido ou como se diferencia do material do Sonship. E sim… não estou a par desta controvérsia.

Corrija-me se estiver errado. Lutero entendia que a Graça era oposta a Lei e Calvino entendia a Lei como graça. Sendo um calvinista, como é que você enxerga este assunto?



Eu tenho uma visão mais positiva da Lei do que Lutero. Quando você se apaixona você quer conhecer a vontade do ser amado, para que você possa se satisfazer e desfrutar dele ou dela. Você tem um desejo profundo de satisfazer a vontade de quem você ama. A lei moral de Deus é sua vontade, e se eu sou salvo pela graça eu quero obedecer sua vontade por amor e com alegria. E por amor, eu prometo obedecer sua vontade mesmo quando não sinto muita alegria e amor. Então como um cristão reformado, eu creio que devo obedecer a Lei de Deus.

Como é que a Igreja deve disciplinar a luz do Evangelho? Por exemplo, muitas igrejas suspendem o membro faltoso da eucaristía. Eu sei que você gosta muito de dar exemplos práticos então, se você puder fazer assim, ajudará bastante.


Eu acho que se um cristão está preso numa patente de pecado, (por exemplo: se um jovem cristão está transando com sua namorada, ou se um outro cristão não consegue perdoar um irmão em Cristo que o ofendeu) então se ele ou ela está vindo a Mesa do Senhor, eles devem voluntariamente privar-se de tomar parte dos elementos da Santa Ceia. Mesmo que se arrependam na hora, seria uma boa disciplina deixarem de participar da ceia até que tenham certeza de que se arrependeram e que fizeram as mudanças necessárias. Lembre-se que disciplina eclesiástica é apenas fazer o que a pessoa deveria estar fazendo de qualquer forma. Suspender pessoas da Santa Ceia indefinitivamente (até que se arrependam) ou até por um periodo determinado depois que se arrependam, pode ser algo muito bom para o crescimento espiritual.


Ouvi que você estava escrevendo seu segundo livro. Fale um pouco sobre isso.




Estou escrevendo um livro para não-crentes. Nele, tento tratar das objeções que pessoas seculares num lugar como New York City têm em relação a fé cristã. É desenhado para ajudar pessoas a possuirem uma visão mais positiva do cristianismo, talvez até ajudar no processo de se ter fé em Jesus.

por Felipe Assis

3 comentários:

Robinson disse...

Grande Felipe!
Que furo de reportagem! Lega a entrevista com Tim, embora particularmente discorde da opinião dele quanto a retirar o membro faltoso da eucaristia.
Acho que é meio de graça e nunca deveria ser usada desta forma, conforme conversamos quando estávamos voltando para NYC.
Quanto ao Sonship ser "graça barata", posso testemunhar na condição de ser uma pessoa que fêz a Sonship Week em Chattannogga, TN, que não tem nada de graça barata.
Na verdade, ao tratar de ídolos do coração, Sonship é pura lei, no sentido de ser lei de coração e não norma formal, entende:
Pois bem, parabéns novamente e Deus continue te abençoando aí em Recife.

Robinson disse...

Grande Felipe!
Que furo de reportagem! Legal a entrevista com Tim, embora particularmente discorde da opinião dele quanto a retirar o membro faltoso da eucaristia.
Acho que é meio de graça e nunca deveria ser usada desta forma, conforme conversamos quando estávamos voltando para NYC.
Quanto ao Sonship ser "graça barata", posso testemunhar na condição de ser uma pessoa que fêz a Sonship Week em Chattannogga, TN, e não tem nada de graça barata.
Na verdade, ao tratar de ídolos do coração, por exemplo, Sonship é pura lei, no sentido de ser lei de coração e não norma formal, entende:
Pois bem, parabéns novamente e Deus continue te abençoando aí em Recife.

felipe assis disse...

Robinson, eu concordo com a primeira parte. Isso é... suspender indeterminadamente o faltoso caso não haja sinais de arrependimento. Todavia, concordo com você que não vejo nem base bíblica, nem lógica de suspender um pecador arrependido de um dos meios de graça, tendo em vista que a mesa do Senhor é uma mesa de pecadores.