terça-feira, 17 de abril de 2007

Quando cruzamos a linha do desespero...

Há pouco tempo atrás escrevi sobre o caso do menino João Hélio que deixou boquiaberta a sociedade brasileira. Hoje porem, é a vez da sociedade americana que experimenta nada mais, nada menos do que a maior chacina da história do país. O crime não aconteceu numa periferia, numa favela, numa boca de fumo, mas no campus de uma das 100 melhores universidades do país. O assassinato de 32 alunos não foi cometido por um vagabundo qualquer, ociosos e voltado para uma vida de criminalidade, mas, por um dos alunos que morava no próprio internato da Virginia Tech. Uma faculdade internacionalmente conhecida como esta não apenas aceita alunos que tem condições de pagar cerca de 30.000 dólares por ano. Para ingressar lá, se necessita de massa cefálica e uma participação exemplar ao longo de todo histórico escolar. O que prova que o problema da violência não é o problema da pobreza, da falta de educação, do desemprego. O problema da violência é um problema moral. Logo, um problema do pecado inerente ao coração humano. O homem sem Deus é um homem que “cruzou a linha do desespero” como dizia Francis Schaeffer. Ainda não se sabe ao certo, mas, especula-se que o assassino começou a puxar o gatilho por ciúmes, por achar que sua namorada o traía com outro aluno. A dor do seu coração existencial passou então a ser a dor no músculo miocárdio daqueles que o cercavam também. Dentro desta ótica, a violência se torna o último recurso por não crer que exista solução para a crise imediata. Que exista um ser superior a quem recorrer que entenda a dor interior, que exista um futuro esperançoso, que exista uma dimensão além da material, que não estejamos jogados ao acaso como dizia Heidegger. A violência é o recurso que recorremos por não aceitar que exista um justo juiz. Daí, resolvemos voluntariamente sentar em sua tribuna para batermos o martelo sobre a vida daqueles que julgamos merecer uma sentença. Neste aspecto somos iguais a este “serial killer”, claro que obviamente sem as mesmas proporções e conseqüências. Não obstante, quando sentimos violados, corremos atrás de nossos inimigos para que paguem com os olhos e com os dentes a ofensa cometida contra nós. E mais... no processo, os inocentes espectadores que se cuidem para não se tornarem vitimas por tabela.

No final quando a raiva é satisfeita na carnificina agora exposta em forma de caos, a conclusão é unânime. Não valeu a pena, tanto para quem estava de fora, como para quem violou como para quem foi violado. Isso revela que somos todos desqualificados para julgar e trazer justiça. Se acreditássemos num reto juiz que um dia colocará todos os pontos nos “i”s, jamais tentaríamos sentar em sua tribuna após cruzarmos a linha do desespero.

por Felipe Assis

Um comentário:

Unknown disse...

Muito bom, exclarecedor, gostei muito da seguinte frase: "A violência é o recurso que recorremos por não aceitar que exista um justo juiz". Esta é a situação de fato daqueles que estão acima da linha do desespero.