
Certa vez uma mulher da minha igreja chegou para minha esposa e disse: "-Eu não sou a mulher do pastor, mas trabalho muito mais do que você!" Com lágrimas que se derramavam sobre as maçãs de seu rosto ela mais tarde me contou a amarga experiência. A minha reação de início foi a imaginada: Raiva, indignação, sede por justiça etc. Todavia, depois de parar para refletir vi que o comportamento da suposta "irmã" representa muito bem o comportamento da maioria dos "crentes". Comportamento este que é disseminado no meio eclesiástico na maioria das vezes dos púlpitos. Me senti então responsável porque acho que nenhum pastor gostaria de ouvir o que ouvi da minha esposa naquele dia, entretanto, talvez a dor de uma picada como esta, deva-se ao fato de ter criado serpentes para mim mesmo. Criamos serpentes para sermos mordidos ao exigirmos do povo uma carga que não podem carregar. Fazendo-os sentir culpados por terem ido a praia com a família ao invés da escola dominical, chamando-os de ladrões quando em um determinado mês cai a arrecadação mensal da igreja, citando seus nomes de púlpito por terem sidos apanhados em flagrante no sol quente da praia saboreando uma gelada ou elogiando de púlpito os "destaques" de serviço do mês como fazem os supermercados com porta-retratos de funcionários na parede... Estas, dentre outras práticas pastorais não são raras de ver ou ouvir nas igrejas mais próximas de nossas casas. É justamente desta forma que se cultiva serpentes venenosas. Essa é a dieta que produz "crentes serpentes", orgulhosos e ao mesmo tempo debilitados na auto-estima. É engraçado que a raiz da baixa estima é a mesma do orgulho porque ambas são viciadas numa auto-imagem impecável. Por isso, quando fazem, se sentem "a bala que matou Kennedy", com créditos no banco celestial a esperar uma oportunidade para sacar a grana depois de uma barganha com o Altíssimo. Do outro lado da moeda, quando falham nos seus objetivos ou ficam a quem de suas responsabilidades se sentem a mosca sobre o cocô do cavalo do bandido. Vivem se comparando aos outros de cima para baixo ou de baixo para cima pois o mecanismo de condução de suas vidas é a performance. Performance é o que a Bíblia chama de obras. Obras e a imagem que esta produz era o que os Fariseus nos dias de Jesus viviam atrás. São estes mesmos Fariseus que Jesus um dia taxou de Raça de Víboras. Raça de Víboras porque eram incrédulos apesar de serem religiosos. Eram religiosos mas, não viviam pela fé como fala Paulo em Gálatas e Romanos. Temo que a grande maioria dos "crentes" são dirigidos por obras e não por fé. Não entendem quem são aos olhos do Pai, que o Pai não está nem aí para sua performance pois a única performance que vale é a de Cristo, a lente por quem Ele, o Pai agora os enxerga. Se esquecem que a grande diferença que um crente faz não é aquela de fora para dentro que nós pastores, comumente estimulamos de púlpito, mas aquela que provêm apenas do crer. O crêr transforma de dentro para fora. O crêr trás humildade. O crer trás confiança. Apenas creia...
Pelo Pr. Felipe Assis
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