
Quem me conhece sabe que sou um individuo mente aberta. Inclusive existem conservadores dentro da minha própria corrente teológica (reformada) que me vêem como liberal. Eu os entendo. Talvez seja porque gosto de rock, ou quem sabe porque tenho uma tatuagem com um texto de Lutero no meu ombro direito. Pode até ser que seja porque já me viram tomar um copo de cerveja ou uma taça de vinho com amigos em algum lugar. Muitos sabem também que sou simpatizante do ministério de diaconia feminino e que apesar de ser um cessacionista, convivo muito bem com os pentecostais. Aprendi com a Confissão de Fé de Westminster que a Bíblia não é igualmente clara em todos os assuntos não essenciais para a salvação e por isso, creio que haja liberdade para opiniões divergentes nessas questões. Recebi também como legado da reforma protestante o principio que a liberdade de consciência cativa as escrituras jamais deve ser violada. Experimentei também ao conhecer o Evangelho de forma profunda que a graça nivela a todos. Discípulos de Jesus são um bando de pecadores de meia tigela que carecem de graça e nenhum deles, digo novamente, nenhum; detém o conhecimento perfeito e exaustivo à respeito de Deus e de sua obra revelada. Quem revela não é falho mas, quem interpreta a revelação sim. É falho, e muito falho. Quero dizer até aqui que sou tolerante com pensamentos divergentes ao meu.
A única coisa que como ministro da palavra não posso admitir é indiferença da minha parte quando a Igreja do Senhor Jesus está sob ataque daqueles que se vestem como ovelhas para destruir convicções dos recém-nascidos na fé. Sei que ovelhinhas recém nascidas por indefesas que são, vez por outra são abaladas por ventos de falsas doutrinas. À essas, como o exemplo da Igreja na Galácia, Paulo tem muita cautela para desconstruir o erro e não as pessoas enganadas. Sabe que são frágeis e na maioria das vezes sinceros por isso, tem cuidado para não jogar fora o bebê com a água suja. Todavia, com falsos mestres a história é outra. Esses que possuem consciência do erro e demonstram experiência na arena da religião, Jesus e os seus apóstolos no Novo Testamento os chama de Raposas, Cachorros, Lobos e até de Anti-cristos! Os pais da Igreja que chegaram logo após a era apostólica fizeram o mesmo. Atanásio combateu Ario, Tertulliano combateu Praxeas, Agostinho combateu Pelagios e Calvino combateu Miguel de Cervetus. Em todos os casos, tanto no novo testamento como na era patrística, heresias à respeito da natureza de Cristo e da constituição Trinitariana não eram toleradas. Admito que os nossos pais na fé e os nossos amados irmãos reformadores chegaram até a usar de métodos violentos para caçar tais hereges. Não concordo com essa metodologia. Concordo como os Apóstolos abordaram essas heresias. Escreviam e publicamente pregavam expondo os impostores, e com o auxilio do Espírito presente na igreja, os dejetos eram evacuados do corpo (1 João 2.19).
Quis armar o cenário para fazer um denuncia. Faço isso no mesmo espírito dos Apóstolos. Não quero soar como detentor de toda verdade nem como moralmente superior a ninguém. Muito pelo contrario, venho em estado de submissão ao oficio que me foi confiado pelo Senhor Jesus Cristo.
Aqui no Recife, numa das mais estimadas e tradicionais igrejas da cidade – A Igreja Batista da Capunga, em sua maior sala de escola dominical, o fantasma do Presbítero Ario voltou a assombrar. À frente da turma com dezenas de novos convertidos o tal mestre refuta os fundamentos Trinitarianos infectando assim pequeninos na fé com o vírus da cristologia ariana, causando nos inocentes uma patologia teológica que os derruba no leito da incredulidade. Impossibilitando-os de experimentar o verdadeiro evangelho do verdadeiro Cristo. O principio central da epistemologia de Ario (256-336) que derivou de Luciano era: “O que não cabe na mente humana não pode ser aceito como verdade”. Para Arius e para o professor da Capunga, o mistério da Perichoresis é irracional. A Perichoresis, termo este criado por Gregório, para explicar a inabilidade da mente humana de compreender a complexidade das relações na Trindade. Ou seja, O Pai é Deus, O Filho é Deus e o Espírito é Deus. Todos são um mas, cada um é uma pessoa distinta com poderes iguais e sem principio nem fim. O Pai é Pai e o Filho é Filho eternamente gerado do Pai. Admito que é incompreensível e por esta razão nunca poderia ter saído da mente de um ser criado. De acordo com Ario, Jesus é deus e o Pai é Deus. Em miúdos, O Filho é um Deus inferior ao Pai por ter sido criado como nós e como os anjos. Se guardassem essas idéias para si mesmos seria ruim mas, não pior do que esta acontecendo. O que me preocupa é que a fabrica ariana instalada nas salas da Capunga começa a produzir em série. Ensino numa instituição teológica onde pelo menos três já apareceram. Inclusive o filho do dito cujo (professor da Capunga), que até sugeriu minha demissão através de um abaixo assinado pelas minhas costas entre os meus alunos. Ainda bem que meus alunos não são tão despreparados assim para cair nas teias desta epidemia que já foi erradicada pela Igreja no concilio de Nicéia há 1700 anos atrás. Comentava ele que eu ensinava heresias como as do tipo da eleição e da trindade. Pergunto eu agora. O que ele queria que aprendêssemos num seminário de porte? As heresias que seu papai ressuscitou da cova ariana? De modo nenhum, não só as rejeitamos com base na ortodoxia eclesiástica mas, também desde hoje, denunciamos e passamos a combater. Clamo aos pastores da Igreja da Batista da Capunga que não tolerem erros teológicos desta natureza em suas comunidades. Por mais influentes e caristmáticos que sejam esses falsos mestres, não vale a pena colocar em risco a saúde espiritual de seu rebanho. Principalmente com uma doutrina como essa; essencial para o cristianismo. Doutrina esta que fere a natureza hipostática do próprio Senhor da Igreja. Quero concluir afirmando com base no credo de Atanásio, que o próprio Lutero julgou ser infalível; que “Aquele que não crê nela (doutrina da Trindade) não poderá ser salvo”! Minha oração é que estes falsos mestres se convertam e que não morram afirmando como Miguel de Cervetos afirmou atado à uma fogueira: “Jesus, filho do Eterno Deus,( ao invés de Jesus, Eterno Filho de Deus) tenha misericórdia de mim”.
por Felipe Assis